A pandemia do coronavírus fez o mundo se trancar em casa para rever hábitos e costumes e, ao mesmo tempo em que viu o aumento o consumo de bebidas mais elaboradas como vinhos finos e cervejas especiais, também observou um crescimento na procura por variedades mais saudáveis e funcionais.
Dentre as bebidas com este conceito de saudabilidade estão os chás, que a líder de vendas no Brasil viu crescer na casa do duplo dígito em apenas um ano. A centenária Leão, que hoje é uma divisão da gigante multinacional Coca-Cola, teve um crescimento de 29% na receita ao longo de 2020, alcançando 64,5% do segmento no mercado nacional.
A indústria, que lançou uma nova linha de chás funcionais ao longo da pandemia de olho na nova rotina das pessoas, movimentou mais de 4,7 mil toneladas de ervas no ano passado. Além da novidade, a marca incrementou as vendas de itens que já estavam no mercado, como os chás a granel, as cápsulas para máquinas e os sachês de infusão a frio.
Marcelo Correa, líder do setor comercial e de desenvolvimento de negócios da Leão, diz que o resultado alcançado ao final do ano foi além do esperado. E que a meta para 2021 é ter o mesmo desempenho – ou até maior.
“Fizemos dois anos em um no ano passado. O nosso desafio para 2021 permanece em crescer duplo dígito”, diz.
Parte desse crescimento pretendido deve vir do aumento do consumo nas regiões Norte e Nordeste do país, estados que a Leão está presente mas que ainda tem grande potencial de ampliação do mercado, segundo o executivo. As metas e porcentagem da divisão de chás dentro da Coca-Cola não foram revelados pela companhia.
Nesta entrevista ao Bom Gourmet Negócios, Marcelo Correa explica como a Leão alcançou o resultado a partir da observação do comportamento dos brasileiros, e o que prevê para os próximos anos no desempenho da marca de 120 anos criada no Paraná, que chamou a atenção da gigante alimentícia e alcançou todo o país. Leia os principais trechos da conversa:
Bom Gourmet Negócios: O que a Coca-Cola viu nessa mudança de comportamento dos brasileiros durante a pandemia do coronavírus que ajudou no desempenho dos chás acima do previsto, fazendo a divisão crescer 29% em 2020 na comparação com 2019?
Marcelo Correia: É fato que fizemos dois anos em um com uma marca com 120 anos de história e líder no mercado nacional. É uma responsabilidade muito grande de educar os brasileiros para esse consumo de chás, as funcionalidades e como eles podem auxiliar no dia a dia, e com isso traz outra responsabilidade que é trazer inovações para o mercado nacional. E observando as tendências do consumidor de modo geral, a gente vem trazendo novas formas de consumo de chás, diferentes formatos em diferentes produtos, com combinações de sabores cada vez mais indulgentes.
Essa questão de diferentes formatos, quer dizer o que?
Dentro do nosso portfólio nós temos chás para infusão, chás em cápsulas – que é um lançamento recente – , e chás para preparo em água gelada com o mesmo tempo de infusão em água quente. Isso permite o preparo fora de casa ou em ambientes em que você necessita de água quente. Também temos versões das ervas a granel.
A nossa cultura de consumo de chás no Brasil é predominantemente dentro do lar ou em ambientes em que você tenha acesso à água quente para infusão. Já os chás de infusão a frio, que chamamos de “on the go”, trouxe novos hábitos de consumo de chás para o consumidor nacional, que pode levar a bebida na sua garrafinha a caminho da academia ou do trabalho. A gente vem construindo isso ao longo dos últimos três anos, aproximadamente. Mas além disso, a penetração em novos canais e a disponibilidade de chás em quantidade maior de pontos de venda são corredores importantíssimos nessa construção de materializar os nossos objetivos.
Com exceção da linha de chás a frio, que foi lançada em 2019, o que efetivamente foi colocado no mercado em 2020 na esteira da pandemia?
Lançamos a linha de chás funcionais com quatro opções de sabores. Com as nomenclaturas: Reequilibra (chá verde, limão e gengibre), Recarrega (mate com guaraná), Reanima (chá preto com laranja e mel) e Relaxa (camomila com maracujá). Os chás, de modo geral, trazem consigo, seja com um conhecimento empírico ou o estudo de cada uma das ervas, as suas funcionalidades. O que trouxemos foi o endereçamento dessas funcionalidades para o consumo em cada momento específico do dia.
Como está a aceitação da divisão de chás no país, sabendo que as regiões mais frias como Sul e Sudeste têm um consumo maior?
Temos aproximadamente 64% de share de mercado hoje, e isso é possível através de uma distribuição em todo o território nacional. A nossa malha de atendimento cobre toda a geografia do país. Obviamente que, com todas essas inovações, a medida que a gente vem olhando o consumidor de forma muito mais próxima, conseguimos capturar particularidades de cada uma das regiões do país. Quando trazemos, por exemplo, o chá de preparo em água gelada, temos o consumo em uma região com clima mais quente, uma temperatura mais elevada. Assim conseguimos abranger todo o perfil de consumo, e nosso chá está distribuído por todo o país, inclusive Norte e Nordeste, que são áreas bastante promissoras.
Quais são os planos e metas para este ano e os próximos para a divisão de chás da Coca-Cola?
O nosso desafio para 2021 permanece em crescer duplo dígito. Continuamos com nossos objetivos agressivos, mas embaixo de um propósito, que é desenvolver a categoria de chás no Brasil e liderar a educação do consumo da bebida no país. Esse é o elemento importante norteador de toda a nossa estratégia. Teremos inovações e vamos trazer para o consumidor os anseios que eles nos comunicam: estamos atentos a isso e a todas as possibilidades de nos aproximarmos mais dessa procura por bebidas funcionais e saudáveis, naturais. O processo da pandemia fez com que os consumidores se orientassem de forma ainda mais intensa aos cuidados com a saúde, e o portfólio de chás traz isso consigo. Trazemos esses elementos que são sinérgicos com os anseios dos consumidores.